Thursday, December 13, 2007

Você aprendeu as regras: ande dez casas

Voltei a correr. Depois de dois meses parada. A dor pelo corpo é grande, depois de tanto tempo, mas o preço é pouco pela sensação deliciosa da endorfina que bombeia pelo corpo. Ainda mais agora, tão próximo do verão, quando o sol e a brisa quente deixam que a pele se entorpeça deles. É, porque o bom da vida é isso mesmo, o deixar-se entorpecer.
Fazer esportes, evitar frituras e gorduras trans, não beber, não fumar, o que é isso tudo, quando, na verdade, jogamos todos os mesmos jogos de azar e sorte?
Não é sempre que se morre dormindo, como meu avô, que já nem sabia bem quem era, onde estava, quem era sua esposa. Às vezes, acontece assim, meio de sopetão, como meu tio. Um assalto. Um tiro acerta a coluna. Sua sobrevida, por alguns dias, permite que os familiares ainda possam se despedir. Mas como será ter que se despedir da vida? Ter a consciência de que é a hora, mesmo quando se quer ficar? Tem vezes que não dá tempo de dizer tchau. Não dá tempo sequer de tomar conhecimento de que se está indo embora, como meu pai.
Na verdade, o jogo do acaso deve ser encarado mais ou menos como o Jogo da Vida. É, aquele mesmo, que mandava a gente andar casas quando nos formávamos em jornalismo, vê se pode. Não ganha quem termina antes ou depois. Porque terminar não importa. Eu não corro pela boa saúde, eu corro pelo entorpecimento. Eu amo pelo entorpecimento. Eu brinco e rio pelo entorpecimento. Vão me dizer: o prazer é efêmero. E daí? O que não é, se a linha de chegada é imprevisível?