Tuesday, January 30, 2007

Novos prazeres

Foi durante uma pausa na criação de um dos seus mais famosos livros – "Admirável Mundo Novo" – que Aldous Huxley escreveu um ensaio sobre os costumes e as práticas de uma sociedade hedonista, a qual pôde observar em temporada na Riviera Francesa.
Huxley acreditava que, mesmo a ciência do século XIX tendo descoberto a técnica da descoberta e, com isso, chegando-se à era das invenções, ninguém conseguiu inventar um novo prazer. Para o autor, as modernas indústrias de prazer do seu tempo não ofereciam nada diferente ou melhor do que tinham os romanos ou egípcios. O cinema, o rádio, os espetáculos são todos proporcionados por aparatos modernos, o que não significa necessariamente que a diversão produto deles seja moderna. Huxley pensava que "tudo o que essas máquinas novas fazem é tornar acessível a um público maior o drama, a pantomima e a música que, desde tempos imemoriais, divertiam o lazer da humanidade". No entanto, na Riviera, esses prazeres mecanicamente reproduzidos não eram encorajados, pois, justamente por ser uma estação de prazer, ali o objetivo era fazer turistas gastarem o máximo de dinheiro possível em um mínimo espaço de tempo. Assim como nossos ancestrais, nesses lugares poderia ser tudo experimentado ao vivo, sem intermediações mecânicas: comer e beber demais, observar bailarinas semi-nuas, estimular o apetite sexual, dançar, jogar e observar os jogos. E, na Riviera, principalmente, o tradicional jogo de apostas. O autor considera que apostar é tão ou mais antigo que o dinheiro. "Tão antigo quanto a própria natureza humana, ou pelo menos tão antigo quanto o tédio, tão antigo quanto a ânsia por excitações artificiais e emoções fictícias."
Encerradas a lista de prazeres proporcionados pelas estações de diversão, fica a certeza de que todos esses prazeres, para aqueles que podem pagar por eles, estão mesmo é situados num certo campo emocional que Huxley definiu como complexo de prazer/dor do esnobismo. A "exclusividade" das diversões é capaz de dar incrível satisfação às pessoas. Mas o esnobismo também pode causar prazeres extraordinários, pois as pessoas gostam de sentir-se como "eleitos" e pensar no rebanho pobre e vulgar lá fora, impossibilitado de desfrutar dos prazeres para os quais apenas esses eleitos podem comprar ingressos.
Entretanto, é também o esnobismo uma forma muito antiga de prazer. O autor acreditava viver a era das invenções, mas não entendia como ninguém fora capaz de "pensar num modo inteiramente novo de estimular agradavelmente nossos sentidos ou evocar reações emocionais agradáveis". Até aquele momento, a tarefa dos "mercadores" do prazer era encontrar o que Huxley chama de Máximo Denominador Comum de diversão, ou seja, uma diversão pouco especializada. Com isso, os apelos de prazer tornam-se muito limitados, pois tentam atingir apenas o que há de comum e simples nas características humanas gerais, desconsiderando todas as idiossincrasias psicológicas.
Baseado em tudo isso, o grande desejo de Aldous Huxley era ser multimilionário para poder financiar um grupo de pesquisadores para procurar uma espécie de intoxicante ideal: "Se pudéssemos cheirar ou engolir algo que pudesse, durante cinco ou seis horas por dia, abolir nossa solidão como indivíduos, harmonizarmos com nossos semelhantes numa cálida exaltação de afeição e fazer a vida em todos os seus aspectos parecer não apenas digna de ser vivida, mas divinamente bela e importante, e se essa droga celestial, que transfigura o mundo, fosse de um tipo que pudéssemos acordar no dia seguinte de cabeça leve e físico ileso – então, parece-me, todos os nossos problemas (e não apenas o único pequenino problema de se descobrir um novo prazer) ficariam inteiramente resolvidos e a Terra se tornaria o paraíso".
Huxley termina o ensaio dizendo que a sensação mais próxima à experiência dessa droga – mas ainda infinitamente distante – seria a emoção da velocidade, essa sim produto da modernidade. Os homens sempre teriam gostado da velocidade, mas eram limitados pela capacidade do cavalo. Hoje, o automóvel é suficientemente pequeno e próximo do solo pra conseguir fornecer a velocidade inebriante que se conseguia com o cavalo a galope.

Apenas uma síntese do ensaio "Procura-se um novo prazer" publicado em uma coletânea – intitulada "Moksha" – de ensaios escritos por Aldous Huxley sobre psicotrópicos e experiências visionárias. O texto é de 1931. Minha pergunta é: hoje, há alguma mudança significativa no "mercado" de prazeres? Ou, mesmo com todo o aparato tecnológico, ainda vivemos apenas variações do mesmo tema?

Friday, January 26, 2007

Pisciana

Num momento de ócio, pós-termino das minhas atividades até o fechamento do jornal, ficamos eu e o Douglas tirando onda de um site de signos. Algum dia eu devo ter dado atenção pra isso, mas hoje só sei dizer que sou de peixes com ascendente em touro.
O engraçado mesmo foi que, enquanto eu lia como é o sujeito de peixes, tentava identificar em mim as tais características. E aí eu fiquei refletindo sobre como eu acho que sou, sobre como as pessoas devem achar que eu sou, o quanto tem de verdade nos dois casos e o quanto se correspondem. Puxa, quanta reflexão para uma bobagem, eu sei, mas a verdade é que volta e meia eu penso na "questão". Acho que é porque ainda acho muito estranho algumas pessoas dizerem que à primeira vista eu pareço muito séria. Imagina, eu, séria?!?

Friday, January 19, 2007

Chuin chuin chun clain...

Por mais clichê que pareça, sim, a gente pode ser feliz em um dia por pequenas coisas.
Hoje, meu primeiro momento feliz foi vencer a preguiça e ir fazer trabalho voluntário na rádio da Ufrgs. Abri mão de acordar tarde para, todas as manhãs das minhas férias, fazer o noticiário das 11h da rádio. Ok, ninguém ouve, mas tô curtindo a brincadeira. E o jornalista da rádio é uma figura!
À tarde, meu primo que mora na Inglaterra e que tá de passagem pelo Brasil, após 16 anos sem pisar em terra brasilis, veio nos visitar. Ele e minha tia conseguiram arrancar boas risadas da família toda. No meio da visita, toca o telefone. Era o Cururu, também bandeado pelas terras da rainha, meu "melhor melhor amigo" e a pessoa que me batizou de M.R. Ficamos quase uma hora trovando, como nos velhos tempos que a gente se ligava e ficava falando muita bobagem por mais de hora – para desespero da mãe dele, que pagava a conta.
Depois, volto pra sala e tá rolando um lanchinho com pizza de sardinha! Putz, pizza de sardinha de mãe é o que há! Ainda bem que fui correr hoje de manhã! ;)

Tuesday, January 16, 2007

Será que Freud explica?

Um dia eu gostaria de realmente dedicar-me a descobrir a verdade sobre a lógica dos sonhos, pois, hoje, tive dois deles bem estranhos. No primeiro, um dos meus ex-namorados queria reatar. O que há de estranho nisso? Normalmente eu costumava sonhar esse tipo de coisa por ser realmente um desejo que, às vezes, torna-se idéia fixa e volta nos sonhos. Mas essa reconciliação nem passa pela minha cabeça – muito menos o tal ex. Estranho... muito estranho...
Já o segundo sonho foi bem divertido. Há muito tempo não tinha sonhos do tipo aventura. Nesse, minha mãe e eu estávamos em apuros e eu tinha que pular obstáculos, correr de bandidos e de polícia, fugir de cativeiros. Estranho mais uma vez. Eu nem curto tanto assim filmes de aventura. Mas o tal sonho me proporcionou tanto prazer que, ao acordar durante uma ação importante, voltei a dormir e tentei recuperar o fio da meada, com um certo êxito. Não consigo mais lembrar o desfecho da história, até porque acho bem provável que não tenha tido algum.
É, talvez esteja faltando um pouco de "aventura" nas bandas de cá da vida real! :P

Sunday, January 14, 2007

( )

Termino meu fim de semana podendo dizer que, dessa vez, minha folga (que acontece a cada 12 dias, pra quem não sabe) foi bem aproveitada. Sábado à tarde, consegui ver "Marcha dos Pinguins", filme que tinha me interessado desde a estréia no cinema. Além de ser completa novidade para mim – não sabia absolutamente nada sobre a reprodução dos pinguins –, o filme tem imagens lindas e uma narração encantadora. À noite, após muitos momentos de indecisão da família Horn, fui com a Laura, prima e colega de trabalho, no Ocidente. Finalmente conferi a tal Pulp Friction e foi bem divertido. Aliás, não tem como não ser divertido com a Laura! Domingo, após uma conferida na redenção versão "excluídos do litoral", fui ver uma peça do Porto Verão Alegre: "O Urso", uma comédia de um texto do Anton Tchekhov. Folga fechada com chave de ouro, pois a peça era ótima. Muito engraçada, bem encenada, com expressões corporais muito bem estudadas. Curti mesmo. Ah, e ainda ganhei, no final da peça, uma cortesia para assistir "Pois é, Vizinha". O ruim é que por causa do trabalho não tem como conferir. Deixei para o mano...
O estranho disso tudo é que, mesmo com tantos momentos de lazer, não consegui livrar-me de uma sensação de vazio que começou no meio do domingo e foi crescendo, incomodando, até mesmo doendo um pouco. Fui ficando introspectiva, sem muita vontade de falar, sem muita vontade de me expor. E o pior é saber que tenho um universo de pensamentos e sentimentos – ainda que confusos, estranhos, muitos deles até bobos e infantis – que precisam de um caminho de expressão. Admito que, em diversas fases, fui displicente e nada esforçada na procura desse caminho. A contramão seduz porque às vezes é realmente muito mais fácil fechar-se e ponto. Mas hoje não era o caso. Não queria a contramão, muito pelo contrário, mas queria um estímulo externo, um interesse, uma pergunta.
Se paro e reeleio o que escrevi acima, abstraio dois sentimentos escritos à caneta (não apagariam tão fácil) nas entrelinhas: saudade e solidão. Sinto, como nunca, falta dos amigos que me instigavam, estimulavam. E ainda que a saudade seja nada mais nada menos do que perceber o quanto algo ou alguém "está em mim", assimilado, precisava deles para um chimas na redenção, um boteco na lima e silva, um sorvete no jóia, uma conversa longa de telefone sem DDI.
Bom, acho que também deu pra perceber que tô carente...

Saturday, January 13, 2007

Embarque imediato

“Para qualquer lugar! Qualquer lugar! Desde que eu saia deste mundo!”. (Charles Baudelaire)

Baudelaire tinha atração por portos, cais, estações ferroviárias, trens, navios e quartos de hotel. Sentia-se mais à vontade nos lugares transitórios, como cais, estações de trem etc, do que no destino final ou sua própria residência.

Ah, se eu tivesse grana...

Thursday, January 11, 2007

Um pouco de futilidade

Começo o ano deixando pelo menos um problema para trás: 7 quilos a menos na balança e a volta de tempo e disposição para voltar a correr – o que já tenho conseguido fazer com uma razoável freqüência (4 x por semana). E o melhor: perdi-os em dois meses e sem dieta alguma. Nem mesmo a tal da auriculoterapia tinha conseguido tal proeza. A questão é que, com isso, entraram em campo outros dois pequenos problemas: 1) quase todas as minhas calças parecem bombachas, e meu salariozinho de estagiária, já destinado a tantas dívidas, não sustentaria a compra de tantas outras. 2) A onda de repercussão dos casos de morte por anorexia deixou minha mãe (já levemente paranóica) com a mania de ficar controlando minhas refeições. Saco isso! Enfim... só sei que agora eu tenho mantido o peso com a corrida mesmo. Ou seja, pra que os amigos mais próximos não se assustem com a iminência de uma nova Maria Rita sem uma de suas principais características, volta e meia eu ainda posso ser um guri comendo.

Bah, post totalmente fútil, mas o intuito era esse mesmo: escrever um pouco de bobagem. Fora do mundinho virtual tô tentando rever algumas leituras, voltando a me dedicar a estudar Huxley, lendo mais sobre civilizações pré-colombianas. Claro, vendo também a finaleira de "Chocolate com Pimenta", no Vale a Pena Ver de Novo! :P

Wednesday, January 10, 2007

A "nossa" Abbey Road

Tenho essa foto aí na "minha" mesa de trabalho lá do jornal. Engraçado é que quem vai até a minha mesa quase sempre passa sem perceber que são pessoas "reais". Dia desses, o Alliati (colega) veio falar comigo e perguntou quem eram, acredito que esperando como resposta o nome de uma banda de rock! Sério, ele riu muito quando a resposta foi: "Sou eu ali no meio". HA! É, sou eu mesmo. A trupe completa, da esquerda para a direita: Adriana (a que destoa um pouco mais do resto, mas tudo bem, a gente te considera mesmo assim :P), Rex (Pharaoh, Brício, o que quiser chamar – é um dos que tá com mais cara de mau, mas lembro que era simplesmente fruto da ardência de uma lente de contato mal colocada, boiolice), Maria Rita (se eu não tivesse na foto, diria que era de autoria minha, certamente – HA, me achei agora), Guilherme (Juju – é, o apelido do cara é esse mesmo, acredite – acho que não dá pra ver exatamente na foto, mas o cara conseguiu a proeza de chegar em Londres e comprar um par de tênis em que cada pé era de uma cor!) e Marcelo (meu ex-namorado, com o casaco que eu adorava e que compramos em regime de comunhão de bens – droga, ficou com ele).

Bom, explicando um pouco do contexto da foto: esse foi um dos nossos loucos dias de turista em Londres. Queríamos conhecer a Abbey Road – a tal rua do tal disco dos Beatles, em que eles estão atravessando em fila uma faixa de segurança. Procuramos no London A-Z (guia de ruas com mapas) e fomos atrás da tal rua. Apenas esquecemos do pequeno detalhe de que lá pode ter mais de uma rua com o mesmo nome, o que as diferencia é o código postal. Óbvio que os "Zé Panacas" foram parar numa Abbey Road muuuuuuuuuuuuuuuuito longe! Enfim, sem querer, achamos o cenário perfeito para a foto que reúne as cinco pessoas que se divertiram, esfolaram-se, mas, principalmente, cresceram juntas num período que volta sempre com uma saudade latente no peito.

Monday, January 08, 2007

"Let the music take your mind..."

Sabem aquela comunidade do orkut "A vida deveria ter trilha sonora"? Pois então, meu humor hoje, nesse momento, tá muito embalado por "Blue Monday", do New Order. Não pela letra, pela batida mesmo. Acho que eu gostaria de ter curtido a vida naquele momento em que o New Order estourou em Manchester, Inglaterra.

Momento trívia: a música "Blue Monday" é o single que mais vendeu na história da música. O problema é que o selo inglês Factory – responsável pela banda – era independente (traduzindo: não era da "máfia", não era reconhecido pela Industria Fonográfica Britânica), portanto, eles não ganharam o disco de ouro. Mesmo tendo vendido mais de 1 milhão de cópias só no Reino Unido.

Pra quem curte, vale ver o filme "24 hour party people" ("A festa nunca termina", em português). É uma espécie de documentário sobre a história da Factory, o selo; da The Haçienda, a casa noturna fundada pela Factory eo New Order; de como a Joy Division virou New Order e o surgimento da febre pela música eletrônica no Reino Unido. Por conseqüência, a febre do ecstasy também.

Wednesday, January 03, 2007

Da minha mania de autosabotagem

Já faz mais de um ano que estou trabalhando no jornal. Estranho, ao mesmo tempo que parece ontem, tanta coisa tá diferente de como era e, principalmente, diferente de como imaginava – naquela época – do que seria de mim agora. Minha entrada no jornal foi uma espécie de ápice de uma mudança brusca de vida – o que não ocorria desde a volta de Londres. Uns seis meses depois da minha volta ao Brasil (maio de 2002), eu comecei a trabalhar no colégio da família da Adri (minha amiga-irmã) e, lá, fiquei por quase quatro anos. Então, no fim de 2005, como se já não bastasse o recém término de um namoro – que, na verdade, já estava pra acabar, mas sempre é doloroso e sempre me faz sentir meio perdida –, fui chamada para assumir uma vaga de estágio no jornal O Sul. Tive que sair às pressas do "meu cantinho", aquela salinha apertada, quente no verão e muuuuito fria no inverno, que era o setor "reprográfico" (assim chamava a diretora) do Colégio Monteiro Lobato. Ali eu era praticamente a minha própria chefe. Tinha horário fixo, claro, mas ditava meu próprio ritmo de trabalho. Convivia com gente muito bacana e tinha a Adri ali pertinho, pra quebrar qualquer galho que precisasse.
O Sul é meu primeiro estágio em jornalismo. Poder estagiar na minha áerea me deixou bem contente no início. Mas logo aquela rotina maluca de trabalhar à noite e de não estar de folga todos os finais de semana foi me deixando cansada. Melhor, enjoada é a palavra. Então, muito desde o início, eu já tinha marcado data para sair de lá. Coloquei em mente que não renovaria o contrato em dezembro de 2006, pois um ano já parecia tempo suficiente. E o engraçado é que, inconscientemente, eu acabava não criando vínculo com o lugar, nem mesmo com os colegas – a não ser meus colegas de estágio na geral, o Isma e o Skrotzky, que tornavam sempre as noites muito mais divertidas.
Os planos então eram juntar dinheiro e viajar. A princípio, para qualquer lugar. Uma espécie de contrato comigo mesma de que faria uma pausa pra viver, pra curtir. Depois, surgiu a vontade de ir para o Universo Paralello, festival de trance de Ano-Novo na Bahia. E tudo estava absolutamente certo... até outubro. Foi nessa época que um novo tufão passou. Coração, família, grana, demissões de estagiários no jornal. Meu mundo fora do jornal bagunçou-se de uma maneira, que hoje me sinto dependente daquele ambiente, daquela rotina que me livra do pensar no "lá fora". A viagem pra Bahia acabou não acontecendo, renovei contrato por mais seis meses e, por mais que eu saiba que o ideal agora era sair de lá e partir pra outro rumo, sinto que sentiria uma falta imensa.
Bom, a única certeza que tenho agora é que preciso lutar um pouco contra essa minha tendência de acomodação. Que alguma luz surja nos próximos dias!

Monday, January 01, 2007

Ufa...

Foi, passou, acabou, alívio...
Odeio virada de ano.