Saturday, December 30, 2006

...

Um tempo que passou (Chico Buarque)

Vou
Uma vez mais
Correr atrás
De todo o meu tempo perdido
Quem sabe, está guardado
Num relógio escondido por quem
Nem avalia o tempo que tem

Ou
Alguém o achou
Examinou
Julgou um tempo sem sentido
Quem sabe, foi usado
E está arrependido o ladrão
Que andou vivendo com o meu quinhão
Ou dorme num arquivo
Um pedaço de vida, vida
A vida que eu não gozei
Eu não respirei
Eu não existia
Mas eu estava vivo
Vivo, vivo
O tempo escorreu
O tempo era meu
E apenas queria
Haver de volta
Cada minuto que passou sem mim

Sim
Encontro enfim
Iguais a mim
Outras pessoas aturdidas
Descubro que são muitas
As horas dessas vidas que estão
Talvez postas em leilão

São
Mais de um milhão
Uma legião
Um carrilhão de horas vivas
Quem sabe, dobram juntas
As dores coletivas, quiçá
No canto mais pungente que há

Ou dançam numa torre
As nossas sobrevidas
Vidas, vidas
A se encantar
A se combinar
Em vidas futuras
E vão tomando porres
Porres, porres
Morrem de rir
Mas morrem de rir
Naquelas alturas
Pois sabem que não volta jamais
Um tempo que passou

Tuesday, December 26, 2006

Direito de resposta


Hehe! Esse post é dedicado a srta Coral Michelin Basso (quase senhora Oded), amiga doidona, como vocês notarão abaixo, que eu amo muitão e que tá láááááá longe. É, a menina mora em Israel. Bem, o post é para responder o comment que ela deixou no anterior, o qual reproduzo aqui pra facilitar:

Coral said...

ta, primeiro to puta da cara q tu tem essa coisa aqui ha UM ANO e soh me falou agora!!!
segundo, to puta da cara que tu nao me manda UM EMAIL pra dividir essas coisas q vao passando contigo (falta de tempo vale como desculpa, mas nao por TRES ANOS, PORRA!)
TEM QUE XINGAR na primeira vez que escreve!!
e, por ultimo, se serve de consolo, nao conheço nenhuma pessoa, da turma dos inteligentes e pensantes e meditantes, que nao esteja nesse mesmo estagio de tristeza-hibernação. Inclusive achoq ue deveríamos montar uma sociedade anônima. Heh! e aí vamos ser do conselho! ha!
bem tranquilo.
e aqui, que nem uma bolinha de natal, um pinheirinho, uma luzinha, N-A-D-A... papai noel entao, passa cuspindo lá de cima... opa! será q é por isso q choveu ontem? hahaha...
unf, ainda to puta da cara.
tchau pra ti!
e nem vou mandar beijo nada, bobalhona!

Ok, at first, o link do blog sempre esteve lá no fotolog. Segundo, sim, já tenho ele faz um ano, mas só comecei a escrever de verdade em outubro. Terceiro, como assim ser do conselho? Eu já sou do conselho, ora! :p Quanto ao Natal, sorte tua, porque é um saco. Quarto, TE AMO, sua malinha sem alça!!!

P.S.: quero ver da próxima vez xingar em hebraico, PORRA! hehehe

Monday, December 25, 2006

Só mais um...

Hoje não foi um Natal indiferente como tem sido já há alguns anos. Lembro que a última vez que a data foi cheia de expectativas foi às vésperas de ir morar em Londres, dezembro de 2000. Muito frio na barriga! Tanto pela situação totalmente nova pra mim como pelo amor guardado em cinco meses distante do meu namorado na época. Ah, meus vinte anos...

Enfim, o fato é que os dois últimos natais foram melancólicos. O de hoje ainda mais que o do ano passado. A diferença é que no anterior eu sabia o porquê. Tristeza é sempre ruim, mas é tão difícil de lidar quando a gente não sabe bem de onde vem e o que fazer pra que seja diferente. Não é como a tristeza sem motivo da depressão – duas crises já me batizaram a ponto de saber quando a linha entre uma coisa e outra começa a se tornar deveras tênue. A de agora é quase como uma vontade de hibernar. E só isso. Ficar um pouco distante do que me preocupa, do que me machuca, do que me ilude pra logo após me desiludir.

Engraçado é que tava planejando para que fosse diferente. Minha viagem para o Universo Paralello, na Bahia, era certa. Eu não via a hora de que chegasse a hora de sair do estágio, tirar férias, viajar. E, no fim, me despilhei. Foi acontecendo aos poucos. Primeiro o rolo no trabalho, quando mandaram quase todos os estagiários embora. Bobagem, mas quando eu fui a que sobrou, senti como se estivesse assumindo uma espécie de compromisso. Depois, todos os problemas em casa. Se realmente fosse, sinto que enlouqueceria sem trabalho e sem grana. Faltou coragem? Talvez. A minha estrutura que parecia tão pronta para cometer loucuras foi ruindo ao longo das adversidades. Dessa vez ainda não quis pagar pra ver.

Se pudesse realmente pedir algo para Papai Noel, pediria um pouco mais de clareza a esses 26 anos (quase 27!!), que às vezes parecem tão ou mais confusos que os 18...

Finalizo com um trecho do que estou ouvindo: "E agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim... pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim..." (Chico Buarque, João e Maria)

Friday, December 22, 2006

Filmes

Tava pra fazer esse post uns dois dias antes, mas finalmente resolvi abrir a mão em prol do meu computador. É, rolou um upgrade, finally. Buenas,com isso, fiquei sem poder acessar o blog. Também... que falta enorme deve fazer para taaaaantos leitores! hehe Se passa ou não alguém por aqui, no momento também não faz muita diferença. O importante é que tô tentando voltar ao hábito de escrever um pouco. Lembro dos diários de pirralha, aqueles caderninhos cor-de-rosa, com chavezinhas e cadeados de plástico. Lembro de ter sempre que escondê-los da mania totalmente desprovida de bom senso da minha mãe de ler e remexer minhas coisas. Pior, sempre entendia tudo errado! Meu consolo é saber que minha mãe tem nenhuma afinidade com computadores. É... e viva o mundo globalizado! pode ler quem quiser, menos a mãe :P

Maaaaaas, voltemos ao objetivo inicial. Queria contar que entre o fim de semana e terça-feira, assisti mais filmes do que durante os últimos quase 5 meses (dedos tamborilam na mesa tentanto lembrar a última vez que tinha ido ao cinema... Putz, será que foi pra ver o "What the bleep do we know – roteiro lairriberiano da new age?) Acho que foi. Enfim, sábado saí com o Barba e o Diego (amigos do segundo grau) e, após devidamente estufados de pizza do cavanhas e sorvete do Jóia, pegamos um filme para ver. "Identidade roubada", com a Susan Sarandon e Sam Neil. Absolutamente nada demais. Roteiro daqueles que tentam te prender na cadeira com algum mistério bobo, de desfecho igual a tantos outros que passam no Supercine.

Pra compensar, domingo à noite fui assistir Volver. Não ultrapassou minhas preferências almodovarianas já tão consolidadas – "Fale com ela" e "Carne Trêmula" –, mas é maravilhoso, com certeza. As personagens da retomada do universo feminino pelo diretor são muito bem representadas por um belo time de atrizes, premiadas no Festival de Cannes. Entre elas Penélope Cruz e Lola Dueñas ("Mar adentro"). O costume espanhol de manter os túmulos limpos e já comprados, antes mesmo de morrer, exposto logo no início do filme, lembrou-me o conto do Gabo sobre a prostituta que visitava seguidamente seu jazigo, pois acreditava que a morte era próxima. Acho que esse é um dos pontos que mais gosto nos filmes do Almdóvar: a representação de alguns costumes espanhóis.

Na terça-feira, fui ver "Amigas com dinheiro". Volto ao saldo negativo. É, não gostei. Mesmo com a boa atuação de Jennifer Aniston no papel da pobretona de um grupo de amigas, o filme não conseguiu me fazer gostar nem desgostar. Saí do cinema com a sensação de que o filme não me comunicou nada. Como disse uma colega minha de trabalho que escreve para o Cena de Cinema (do Renato Martins), o filme se propõe a algumas análises, mas não aprofunda nenhuma. Parece que fica faltando algo. Quem quiser dar uma olhada na crítica que ela escrevu sobre "Amigas com dinheiro", deixo aqui o link:

www.renatomartins.com.br/artigos.asp?Cod=2948&Pagina=2

Por hoje, é isso... o post é longo e o sono já é muito...

Tuesday, December 19, 2006

Malditos dias

Em casa, enquanto resolvo pendegas e bobagens na frente do computador, escuto um pouco de música. Na verdade, encontro um cd de músicas variadas, (variadas no sentido de que elas realmente não tem quase nenhuma conexão). Nele tem "She", do Elvis Costello – eu amo a música, mas admito que tem um "quê" piegas. Então, repentinamente, ouvindo-a por diversas vezes seguidas, começo a chorar. Chorar pra valer. Bate o medo de alguém entrar no quarto e perguntar: "O que é isso, guria?". Mesmo que tudo que eu quisesse fosse um abraço e um consolo de alguém, a resposta sairia das mais duras, talvez até mesmo cheia de palavrões e bufadas.
Vou para o trabalho. Sento na mesa do computador como se o turno de trabalho a passar fosse a pior das tarefas de Hércules. Pra ajudar, parece que nada dá certo. Por várias vezes tenho muita vontade de ir chorar baixinho no banheiro, botar pra fora o que nem eu mesma sei por que raios dói tanto. A vontade é de estar em casa, sozinha, no quarto, comendo muito chocolate.
Mesmo querendo estar em liberdade, nunca quis tanto um namorado como hoje. Embora, se eu o tivesse e o visse, seria capaz de traduzir qualquer palavra ou gesto de carinho como uma afronta, um desaforo. E pior, reagiria com o mais cruel dos mau-humores.

Calma, meus amigos... Eu não virei um monstro depressivo e mau-humorado! Não há mulher que não entenda completamente – e nem homem que tenha convivido com uma de nós que seja – o horror que essas três letrinhas podem significar no mês de algumas mulheres: TPM!!!

Monday, December 18, 2006

Ano novo? novo em quê?

Impossível não se contagiar com esse blá blá blá todo de fim de ano e planos para o próximo. Penso um pouco no ano que tá indo embora e a única coisa que eu consigo desejar é um pouquinho de paz interior e ser feliz. Até aqui, muito fácil, afinal, quem é o louco que não deseja ser feliz? Ok, existem alguns casos especiais, como os depressivos em potencial, cuja única "felicidade", talvez, seja tentar provar o tempo todo que o mundo é cheio de suportes para a sua tristeza. Mas o que me faria feliz? Eu não consigo responder. E isso tem me preocupado um pouco. Tá certo, eu sei de algumas poucas coisas que me fariam feliz – e, no momento, é pela via da infelicidade que as conheço. Mas, ainda assim, até que ponto devo eu preocupar-me com isso? A vida já não me demonstrou, por diversas vezes, o poder do seu caráter transitório? Se nada é imutável, situação alguma (nem mesmo o casamento dos meus pais, que dura 51 anos, me faz pensar o contrário), porque eu ainda me atucano com essa busca? O que tenho que buscar de verdade? Bom, se falta planos para o próximo ano, sobram perguntas...

Thursday, December 07, 2006

Aaaaeeee!!

E não é que o dia está sendo de um bom-humor incrível? E, melhor, nem sei exatamente porque! Seria a endorfina pelas duas voltas corridas na redenção hoje? nããão! O ácido lático que já começa a "mastigar" as coxas teria transformado em mau-humor. Seria por algumas coisas parecerem estar se endireitando em âmbito familiar?
Ah, sei lá... Um conjunto de coisas ou uma em particular, tanto faz... Prefiro continuar sem saber, na verdade. Crio menos expectativas e ponto.
Mas uma coisa é certa: recuperei uma certa inocência e ilusão que achei que não fosse mais possível! :) e me sinto feliz por isso...

Wednesday, December 06, 2006

"... e pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz..."


... então me entreguei inteira naquele abraço. Embora soubesse a dor que o envolvia, sabia que era um abraço de alívio, apertado como quem tenta eternizar o momento de compreensão. Eu, que muitas vezes me empenho na procura infinita de alguém capaz de pelo menos me ouvir, descobri o quão bom é poder ouvir de outrem um "é tão bom alguém que me compreenda...". Posso procurar uma existência inteira por um sentido mais glorioso para a minha vida, mas, ainda assim, nunca vou esquecer desse feito tão particular e íntimo que é proporcionar um pouco de alívio aqueles que a gente mais ama.

Monday, December 04, 2006

"... eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões..."

Ontem, antes que toda minha família afundasse num redemoinho sem volta, resolvi tomar uma decisão radical. Ou a situação mudava (apenas não relato o dito problema porque seria uma pequena novela mexicana e não sou dada a essas choradeiras) ou eu saía de casa. Se eu teria condições de consumar a ameaça? Óbvio que não, mas era minha carta na manga. Como nunca, senti a dor de ferir por aquilo que achava ser a decisão que tinha que acontecer.
É duro sentar na frente de alguém que a gente ama muito e dizer o que pensa. No entanto, mais duro ainda vinha sendo fazer de conta que nada acontecia. A partir de hoje, mais chumbo grosso vem por aí e engaveto meus próprios problemas por um certo tempo. Que minha "pequena" força agüente o tranco!

Sunday, December 03, 2006

Sempre Pessoa

II - O Meu Olhar (Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos)

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Hoje, por um breve momento, consegui deixar em casa o vício do muito muito muito pensar. Um breve instante de ventinho do rio e sol de fim de tarde.

Hoje também retomo a vida literária. Oba, oba, como estava me fazendo falta. A dificuldade mesmo é por onde começar. Não quis escolher muito, deixei que o livro me escolhesse. Da estante do meu irmão: "O Vermelho e o Negro", Sthendhal.





Saturday, December 02, 2006

shiuuuu

"tudo é um questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo..."

Mas como é possível quando milhares de vozes falam sem parar e forças me puxam de todos os lados?
Fugir nunca é solução, mas como eu precisava de férias, principalmente familiares...