Sunday, December 03, 2006

Sempre Pessoa

II - O Meu Olhar (Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos)

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Hoje, por um breve momento, consegui deixar em casa o vício do muito muito muito pensar. Um breve instante de ventinho do rio e sol de fim de tarde.

Hoje também retomo a vida literária. Oba, oba, como estava me fazendo falta. A dificuldade mesmo é por onde começar. Não quis escolher muito, deixei que o livro me escolhesse. Da estante do meu irmão: "O Vermelho e o Negro", Sthendhal.





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